Despedida?1
Neste último 21 de dezembro encaminhei à Comissão
Regional do Opus Dei no Brasil uma carta ao Prelado onde solicitava
a dispensa dos compromissos assumidos ao incorporar-me à
Prelazia como numerário.
Quantos conhecem meu profundo e vital envolvimento com o
Opus Dei nesses últimos 22 anos, podem fazer idéia
de quão difıcil e dolorosa foi para mim essa decisão.
É relativamente conhecida a história dos fatos que culminaram
na entrega dessa carta ..
Primeiro a mesquinha vingança perpetrada por meio de
uma denúncia caluniosa por parte do subdiretor local.
Depois, o oportunismo do respectivo diretor2, que, tomando partido
da minha ausência por motivo de trabalho, encaminhou
esta denúncia à Comissão Regional do Opus Dei
no Brasil agravando-a com outras acusações baseadas
em distorções da verdade.
E, finalmente, o desinteresse da Comissão Regional
em apurar a verdade dos fatos antes de tomar a desastrada
decisão de expulsar-me sumariamente do centro sem qualquer
oportunidade de esclarecimento ou defesa.
No último dia 30 recebi por intermédio do Delegado
do Conselho Geral para a Região do Brasil, a resposta
verbal a essa carta demissória. Desde então, estou
formalmente desvinculado da Prelazia da Santa Cruz e Opus
Dei.
Nos 7 meses e dois dias que correram entre minha expulsão
e a consumação de minha demissão, procurei
de todas as maneiras ao meu alcance outro desfecho.
Embora algumas pessoas implicadas nos acontecimentos procurem
insinuar o contrário (talvez a fim de justificar sua
tortuosa conduta), o fato é que em momento algum alimentei
qualquer dúvida a respeito da sobrenaturalidade e da
realidade de minha vocação nem ``me arrependi''
do investimento vital que representaram esses 21 anos empenhados
(com os naturais erros e acertos) em ``fazer o Opus Dei, sendo
eu mesmo Opus Dei''.
Motivado pela esperança de compreender e assim superar
esses acontecimentos recorri, como é natural, às
autoridades da Prelazia em busca de esclarecimento.
Recebido com alguma cordialidade (e muito atraso) por parte
dessas autoridades, em pouco tempo fui forçado a render-me
às evidências e reconhecer que não havia disposição
para um diálogo propriamente dito, isto é, um processo
encaminhado a superar conjuntamente as severas dificuldades
criadas pela atuação dos diretores envolvidos.
Aquilo que meus interlocutores (em alguns casos evidentemente
despreparados para a tarefa) apresentaram como ``oportunidade
de diálogo'' não chegou a passar de um discurso
unilateral e inflexıvel dirigido a reinterpretar os fatos
(talvez com o fim de assim justificar a posterior evolução
dos acontecimentos).
Embora tenha permanecido até o último momento
aberto ao contato com os diretores, percebi que se dependesse
deles como única fonte de luz, permaneceria na obscuridade.
Empenhei-me então numa verdadeira maratona de auto-esclarecimento
recorrendo ao diálogo (este, sim, verdadeiro diálogo)
com membros e ex-membros do Opus Dei cuja retidão e honestidade
sempre foram um exemplo para mim.
Para encurtar uma história longa, o resultado dessa
maratona foi a constatação de que, infelizmente,
meu caso não era uma exceção; o contato direto
com pessoas e situações diversas ``geradas'' ao
redor do Opus Dei no Brasil conduziu-me à triste conclusão
de que um número muito significativo de pessoas que se
desligaram da instituição foram conduzidas a isso
desfecho pela desatinada atuação dos diretores.
Por algum tempo acreditei que esses casos denunciavam uma
peculiaridade (distorção?) da corrente praxe do
Opus Dei no Brasil; que tratava-se de episódios tıpicos
de avatares históricos desta Região, que ilustravam
o quão daninho pode ser qualquer desvio da praxe com
relação ao Espırito que todos no Opus Dei solenemente
nos comprometemos a preservar.
Hoje, porém, não me resta senão render-me
à evidência de que não é esse o caso.
Assim como tive a oportunidade de conversar com profundidade
e franqueza com muitas pessoas bastante curtidas pela realidade
da Obra no Brasil, também encontrei testemunhos, coincidentes
com estes em sua substância, referentes a diversas outras
Regiões onde o trabalho do Opus Dei atingiu um certo
grau de maturidade.
Não falo aqui da costumeira incompreensão que
pode sofrer o trabalho apostólico pujante ou o testemunho
comprometido da vida de pessoas que procuram levar à
prática os ensinamentos evangélicos.
Também não se trata dos conhecidos ``ataques''
à Obra ou à Igreja, desferidos pelo ressentimento
ou pela tentativa de justificar o ter 'olhado para trás
depois de posta a mão no arado'.
Trata-se antes do testemunho de pessoas que por muitos anos
procuraram dar o melhor de si procurando viver integramente
esse mesmo Espırito e que, a uma certa altura de seu
caminho, viram-se perplexos diante da mesma disjuntiva paradoxal.
Não é possıvel deixar de se impressionar
com tamanha coincidência de experiências e apreciações
a partir de circunstâncias tão diferentes de época,
entorno e peculiaridades sociais.
O confronto entre tais experiências, a minha própria
e a de tantas outras pessoas com quem tive o privilégio
de conversar nesse perıodo foi sem dúvida marcante
para o esclarecimento que eu procurava. Definitivo, entretanto,
foi observar no desenrolar dos fatos a dolorosa confirmação
de tantas experiências alheias na minha própria.
Noutras palavras (e faço questão de deixar bem
claro para evitar tergiversações), não foi
a impressão causada pelo contato com tais experiências
o que me convenceu de que não havia outra saıda
a não ser a que leva para fora; foi a atuação
dos diretores ao longo desse perıodo que, confirmando
a cada passo meus temores, encaminhou-me para lá.
Como muito bem expressa o ex-capelão
da Universidade de Navarra, D. Antônio Ruiz Retegui,
a quem já aludi acima,
El bien de las personas está marcado por su
teleologıa y no por lo que es definido como tal desde
instancias institucionales, que suelen ser interesadas y parciales.
Si se adopta esta perspectiva es fácil imponer a las
personas ``lo mejor'' según los juicios institucionales,
sin atender adecuadamente a la persona. La persona presuntamente
querida no es reconocida entonces en su verdadera condición
personal, sino solamente como miembro de la institución,
como representante de una cualidades u opiniones compartidas
por todos los miembros. Ese nivel de la existencia no alcanza
a lo verdaderamente personal.
Com perdão pela digressão, não resisto a
transcrever o parágrafo subseqüente do mesmo ensaio
,
Por eso un criterio irrenunciable es el respeto
a la libertad de cada uno y, de manera particular, el respeto
a su intimidad. En este sentido la Iglesia Católica da
una muestra egregia de respeto a la persona con su institución
del sigilo sacramental. En efectos en el sigilo, que no puede
ser violado absolutamente, se muestra que la intimidad de
la conciencia no puede ser violada ni siquiera con la presunta
intención de ayudar más a la persona. Esto enseña
que el bien de la persona no se puede procurar a costa de
ella misma. Ni siquiera en las instituciones vocacionales
de búsqueda de la perfección se permite que la conciencia
sea asunto que se pueda tratar en el fuero externo. El canon
630 §S prohıbe taxativamente que los superiores
traten de invadir el terreno de la conciencia de los que les
están sometidos incluso institucionalmente.
pois descreve (e explica) muito fielmente uma dessas perplexidades
que atormenta muitos dos que passaram por cargos de governo
e/ou atenção de almas no Opus Dei.
Os
pontos 34 e 40 de Caminho
34. Não tenhas medo à verdade, ainda que
a verdade te acarrete a morte.
40. Fé, alegria, optimismo, - mas não
a estupidez de fechar os olhos à realidade.
Nesse perıodo também pude constatar que é
considerável o número de pessoas que, permanecendo
vinculadas ao Opus Dei, são bastante conscientes desses
problemas.
É fato que muitos e muitos, com sua experiência
e retidão, não hesitariam em subscrever, por exemplo,
a análise do ex capelão da Universidade de Navarra,
D. Antônio Ruiz Retegui, em sua magistral monografia
``Lo Teologal y
lo Institucional'' caso estivessem convencidos da utilidade
de tal gesto.
Muitos e muitos escreveram ao Prelado, muitos e muitos falaram
demoradamente com membros de Comissões de Serviço,
muitos e muitos falaram com diretores regionais e locais sobre
manifestações das mesmas causas que provocaram o
incidente de que fui vıtima e outros tantos e tão
mais graves.
Que acontece nesses muitos e muitos casos?
As respostas parecem ser, também, muitas e muitas.
Em alguns casos, provoca-se um progressivo desgaste psicológico
que leva a distúrbios psıquicos, tratados com maior
ou menor acerto de acordo com a prudência e experiência
dos diretores imediatos.
Noutros esse mesmo desgaste, com o tempo, leva a uma situação
de afastamento (ausência) psicológico que converte
a luminosidade da vocação numa penumbra cujo efeito
mais visıvel é a criação de sombras cada
vez mais esticadas (e os que convivem com a realidade de alguns
centros -- principalmente, mas não exclusivamente, de
São Gabriel -- sabem bem disso).
Noutros espera-se, com fé e paciência verdadeiramente
heróicas (e que Deus não deixará de premiar,
tenho certeza), no convencimento de que ``o Céu está
empenhado em que se realize'' apesar do que os olhos vêem.
E infelizmente, em cada caso, parece ser que a decisão
de continuar esperando, refugiar-se no trabalho, na doença
ou no que esteja mais à mão, não pertence a
cada um, mas sim à dialética própria de uma
realidade onde o ``Institucional'' ameaça constantemente
suplantar o ``Teologal''.
Tem razão os que esperam? Tem razão os que desistem?
Deus saberá. Cada caso é cada caso. O fato é
que a decisão NÃO PERTENCE a cada um. As circunstâncias
podem determinar (e com freqüência determinam) o
destino de cada caso, usando seus instrumentos de formas que
eles próprios nem suspeitam, como aconteceu com Caifás
(Cfr. Jo. 11,46-53).
Só nos resta confiar (como repeti tantas vezes naquela
inesquecıvel noite de 28 de Junho de 2003), ``que Deus
tenha misericórdia de todos nós''.
É forçoso reconhecer que, em diferentes medidas
segundo cada caso, minha atuação nesses anos a serviço
do Opus Dei serviu para aproximar da instituição
várias pessoas que, como eu, beneficiaram-se do seu influxo.
Diante do exposto acima, não posso evitar um certo
temor por essas pessoas, ciente de que é muito possıvel
que algumas delas passem por momentos igualmente tenebrosos,
muito apesar seu.
Queira Deus esteja eu enganado. Caso contrário é
inevitável sentir-me responsável pela parte que
tenha jogado (ainda que remotamente) nesse processo e oferecer
desde já meu apoio em qualquer forma que esteja ao meu
alcance, apoio este que recebi de forma gratuita de tantas
pessoas nestes últimos meses.
A verdade é que, durante o perıodo de prostração
de que fui vıtima nesses últimos 7 meses, protagonizei
uma versão pessoal da Parábola do Samaritano.
'Despojado e ferido, largado semimorto na estrada', recebi
o socorro paternal de Deus através das pessoas mais inesperadas,
dos ``proscritos'': pessoas que se 'movendo-se de compaixão
aproximaram-se' apesar (?) de não ostentar as credenciais
de ``Bom Pastor autorizado''.
Paradoxalmente, tal como na parábola, aqueles de quem
seria razoável esperar esse amparo em função
dessas mesmas credenciais, ``viram e passaram ao largo'' quando
não contribuiram positivamente para agravar ainda mais
a já crıtica situação ...
No relato evangélico, depois de sublinhar a ``moral
da história'' com a pergunta ``Quem desses três
te parece ter sido próximo daquele [homem]?'' a resposta
é ``O que fez com ele misericórdia''.
Minha gratidão aos meus próximos não cabe
em palavras:
Em primeirıssimo lugar ao Jean, que (naquela altura
ainda um numerário do Opus Dei) acolheu-me como um verdadeiro
irmão afrontando com isso toda sorte de incomodidades.
Legião é o número dos numerários(as) e
ex-numerários(as) que lhe devem gratidão por sua
generosa e desinteressada atenção, que poupou não
poucos sofrimentos. Ainda assim, creio poder contar-me entre
aqueles que tem o privilégio de dever-lhe mais que os
outros.
Ao Pe. João Sérgio, cujo apoio, conselho e companhia
nas primeiras semanas após a expulsão facilitou-me
tanto esses momentos dolorosos (por exemplo, fazendo-me companhia
- e protegendo-me de agressões - enquanto removia meus
pertences do centro do qual fui expulso). É muito de
lamentar que tenha sido eu a última pessoa a quem sua
saúde permitiu dedicar esse desvelo ao mesmo tempo fraternal
e sacerdotal numa crise dessa natureza (e Deus sabe quantas
mais não terá tido que amparar). Consciente do desgaste
que representou essa atenção, não posso evitar
um certo sentimento de culpa ao vê-lo reduzido ao estado
em que se encontra.
A meus pais e irmãos, que apesar de nunca terem nutrido
grande simpatia pelo Opus Dei, heroicamente respeitaram minha
decisão de integrar-me à Prelazia e, com igual respeito
(fruto do verdadeiro amor), ampararam-me incondicionalmente
nesses momentos em que teriam pleno direito de recriminar-me.
Ao meu orientador, colegas e amigos do IME-USP que, apesar
de alheios e não especialmente simpáticos ao Opus
Dei, mostraram uma imensa capacidade de compreender e ajudar
apesar de (como eu, naquela altura) compreenderem muito pouco
do que se passava.
A (...), Vinıcius, Cláudio Kassa, Luciano Penteado,
Gabriel, Márcio Silva e outros tantos que durante esse
perıodo, ainda que à distância, manifestaram
sua preocupação e acolhimento que tanta diferença
fizeram. Isso não tem preço.
Ao Pe. José Puy e ao Pablo pela ajuda que me deram
procurando ``consertar o estrago''.
A todos os numerários que, imagino, preferirão
que seus nomes ``passem ocultos'' nesse agradecimento, uma
vez que a ajuda e apoio que me prestaram ocorreram para além
dos canais oficiais.
A todos esses que foram os ``meus próximos'', meu muito
obrigado com a esperança de algum dia poder retribuir
ainda que um pouco de sua bondade.
No mais, melhor seguir o conselho do ponto 443 de Caminho
....
Por que intitulei ``Despedida?'' esta mensagem?
Muito embora o Delegado do Conselho Geral para a Região
do Brasil tenha me assegurado que tal não aconteceria,
temo (baseado nos acontecimentos dos últimos meses) que
muitos dos que recebem esta mensagem serão aconselhados
a evitar-me, a não receber qualquer comunicação
de minha parte.
A mentalidade que não hesita em trocar as fechaduras
do Centro que até o dia anterior fora o meu lar, com
o expresso intuito de impedir a minha comunicação
com aqueles que até o dia anterior foram a minha famılia,
não terá escrúpulos em engrossar com meu nome
essa lista (preocupantemente crescente) de indesejáveis
e proscritos cujos nomes vem sendo lidos nos Cırculos
Breves e outros avisos nesses últimos tempos.
Com o perdão pela digressão, isso me tráz
à mente outras duas passagens dos evangelhos: a cura
do leproso e a ressurreição do filho da viúva
de Naim.
Em ambas as passagens S. Mateus e S. Lucas fazem questão
de mencionar o fato de que Jesus TOCA os protagonistas.
Desde que compreendi o horror que comporta para a tradição
judaica o tocar um cadáver ou um leproso essas passagens
passaram a comover-me especialmente.
É claro que Nosso Senhor não precisava tocá-los
para realizar esses milagres; os Evangelhos narram uma profusão
de curas sem intermédio de contato fısico. E no
entanto, Jesus parece que faz questão de provocar o escândalo
público e tornar-se legalmente impuro para socorrer essas
pessoas dessa forma.
Por quê?
Os exegetas apresentam várias razões para explicar
esse comportamento de Nosso Senhor. Ao visualizar essas passagens,
como nos ensinou S. Josemaria, consola-me pensar que uma das
razões pode ter sido a de oferecer um gesto muito humano
de carinho, empatia, ao mesmo tempo em que realizava esses
milagres tão impressionantes.
A ser assim, um dos ensinamentos embutidos nessas passagens
seria o de que a importância de transmitir carinho, verdadeiro
conforto humano aos aflitos é muito maior do que o cumprimento
ritualıstico de umas indicações que, ao final
de contas, são estabelecidas por homens, ainda que ``em
nome de Deus'' ...
Voltando ao assunto, o fato é que tenho razões
fundadas para crer que perderei o contato com tantas pessoas
que prezo e de quem considero-me devedor.
Se é verdade que, em última instância, será
a consciência de cada um quem decida como atuar diante
de uma disjuntiva desse tipo, por outro lado não posso
ignorar a pressão que pode exercer sobre a consciência
de um fiel da Prelazia as ordens de um sistema focado na obtenção
de resultados mais ou menos imediatos.
Assim, quero que os que me lêem agora saibam que compreenderei,
caso considerem mais oportuno ceder a esse tipo de pressão.
Para estas pessoas esta mensagem representará uma despedida
que lamentarei, certamente, mas compreenderei.
Também eu passei por disjuntivas assim, onde consciência
e obediência foram colocadas em confronto; onde, em nome
da unidade, da humildade, da visão sobrenatural acabei
sendo co-responsável (por ação ou omissão)
do sofrimento (às vezes agudo, às vezes irreparável)
daqueles que deveria tratar como irmãos, para mais tarde
descobrir que nem sempre as indicações em questão
provinham de uma reta, consciente e desinteressada avaliação
por parte dos diretores envolvidos ...
Essas histórias talvez algum dia sejam contadas, mas
este não é o lugar nem o momento ...
Penso hoje que talvez seja essa sistemática violência
contra a ``recta ratio'' levianamente praticada por alguns
diretores a causa do desgaste que (com freqüência
preocupante entre os numerários do Opus Dei) degenera
em depressão e outros distúrbios psıquicos.
Seja como for, quero fazer constar que mesmo nesses casos
em que esta mensagem represente uma despedida, saibam que
compreenderei e que sempre devem sentir-se à vontade
para contactar-me no futuro.
E no caso de, no futuro, alguém ser levado, como eu,
ao mesmo extremo que eu, saiba que estarei sempre disponıvel
e disposto a fazer o que seja esteja ao meu alcance para prestar
esse apoio que, aprendi nesses meses, pode ser tão decisivo.
A Parábola do Samaritano a que me referi acima termina
com a exortação de Jesus, ``Vai-te e faze tu o mesmo''.
O único propósito claro que tenho formulado para
meu futuro é esse: fazer o que esteja o meu alcance a
fim de poupar (ou ao menos amenizar) a outros o sofrimento
por que passei.
Pude comprovar nesses últimos meses quanta demanda
existe para essa obra de misericórdia.
Deixar a (ou ser deixado pela) Obra, especialmente após
muitos anos de dedicação, é uma experiência
psicologicamente esmagadora. Mais ainda nos casos em que o
interessado não cogitava essa alternativa e é forçado
a ela pelas circunstâncias.
Pessoas nessa situação precisam de um tipo de
ajuda muito especializado, que por enquanto vem sendo dado
por psiquiatras e psicoterapeutas que fazem o que podem, e
por amigos em condições de compreender a situação
que também fazem o que podem.
Em princıpio, a própria Prelazia devia prestar
alguma atenção a essas pessoas (assim aprendemos
todos), mas, ao menos no Brasil, tal atenção não
passa de um cumprimento formal que permite preencher satisfatoriamente
o devido relatório para o Conselho Geral.
Daı a quantidade de ex-fiéis da Prelazia em situações
tão penosas; daı a quantidade de ex-fiéis da
Prelazia nos quais a gratidão pelo que a Obra representou
em suas vidas mescla-se tão intimamente com a decepção
de como 'vêem e passam ao largo' aqueles que até
ontem protestavam sua fraternidade de ``cidade amuralhada'',
``mais forte do que a morte''.
Footnotes
- ...Despedida?1
- e-mail enviado por R. a seus amigos (do opus e não do
opus)
- ... diretor2
- O diretor e subdiretor a que me refiro são, respectivamente,
Paulo Oriente Franciulli (filho do ministro Domingos Franciulli
Neto do Supremo Tribunal de Justiça) e Pedro Paulo Magalhães
Oliveira Júnior (filho de um membro supernumerário do Opus
Dei). Ambos permanecem em seus cargos.
Arriba
Volver
a Libros silenciados
Ir a la página
principal
|